Noites e noites deitando sobre o travesseiro imagens que nunca passam de meras figurações do que poderia ser realidade. Se ainda não o são é por culpa da covardia. Desculpe ser tão rude, mas me fogem eufemismos para essa desqualificação.
Sobre a mesa uns pequenos pedaços de papel colorido, rabiscados com lembretes de tarefas que jamais serão cumpridas. Só não é tortura porque de alguma forma os papéis a confortam de um jeito mórbido e sombrio. É como uma deixa para qualquer desculpa mal inventada se encaixar perfeitamente na sua consciência covarde.
A cada mês passado aumenta a sensação de que o que deveria ser feito fica gradativa e definitivamente para trás. Acho que ela espera por isso. Espera que a sua mente se esqueça de anotar novas tarefas nos papéis coloridos. Porém com todos os dias nasce um novo desejo. Acumulam-se em montanhas coloridas de celulose, quase tão grandes quanto o medo de realizá-los.
Encontrei-a outro dia passeando. Tinha agarrada ao colo um livro grosso e aparentemente pesado. Assim que a vi acenei e tive como retribuição um lindo sorriso. Nos aproximamos e conversamos. Perguntei o que era o pequeno papel rosa colado ao livro. Respondeu-me serena que estava indo viajar.
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