Muito se discute sobre o tempo de vida da indústria fonográfica. Uns dizem que ela já acabou, outros que está indo a falência, e há quem diga que ela ainda tem muito o que ganhar pelo mundo a fora. Isso só quem poderá responder é a própria indústria fonográfica. O que se pode concluir é que, se a indústria não está acabando, a qualidade com certeza está. As pessoas aprenderam bizonhamente a desgostar de música. Parece que tudo o que tem o mínimo de qualidade é imediatamente rejeitado pela grande massa. Mas o que fez isso acontecer?
Até onde posso me lembrar este desastre, pelo menos no Brasil, começou com um grupo chamado É o Tchan. Aquelas pessoas fizeram um sucesso incrível em um período relâmpago, empurrados pela legião de fãs conquistados em sua terra natal, a Bahia. A mistura da batida do Axé, das letras de conotação sexual e das duas dançarinas também com uma conotação traseira sexualíssima fez com que aquelas "músicas" virassem hits conhecidos por todo o país. Além das gravadoras lhe abrirem as portas, os cainais de TV e rádio foram contaminados com aquilo de tal forma que subconcientemente que até pessoas que não apreciavam aquele tipo de som decoravam as letras. A partir de então, as gravadoras tiveram um estralo, e viram que ali nascia uma mina de ouro. A fórmula era simples, "músicas" repetitivas e com duplo sentido + dançarinas gostosas, uma loira outra morena + batidas dançantes + programas televisivos dominicais = sucesso! E a fórmula foi repetida dando origem a outros muitos grupos idênticos ao precursor É o Tchan.
Mas como tudo que é bom dura pouco, o Axé barato ficou quase 10 anos nas paradas de sucesso, sustentados pelas vendas de CD e Shows sempre lotados. Após este período as gravadoras viram que o fenômeno bahiano estava perdendo força e tinha que buscar outra fórmula para poder lucrar. Eis que surge outro fenômeno, o Funk. Mudando o ritmo, aumentando a quantidade de dançarinas gostosas e colocando mais putaria nas letras eles conseguiram de novo empurrar outra montanha de porcaria nos nossos ouvidos. O que não faz um upgrade!?
E então eles foram surpreendidos! A internet chegou como um trator para cima das gravadoras. Tantos profissionais competentes, tantos anos de tradição, tantos astros lançados e ninguém, ninguém previu a Internet! De repente os CDs viraram estoque, o Faustão não dava mais disco de platina pra mais ninguém, os downloads gratuitos se espalhando como uma praga e além disso a pirataria espandida pela facilidade de conseguir toda e qualquer música pela web. Hoje as gravadoras estão correndo atrás do prejuízo e partiram para cima dos artistas sem escrúpulos. Estão exigindo porcentagem do cachê pago nos shows ao vivo, cortaram custos de divulgação dos CDs lançados e não investem mais em novos talentos. Uma atitude suicida na minha opinião. Do contrário do que fizeram o certo seria planejar o futuro e conquistar fãs fiéis e duradouros. Adimiradores do funk e axé não são consumidores potenciais a longo prazo. Artistas como Marisa Monte, Chitãozinho e Xororó, Paralamas do Sucesso, Skank, Titãs, Zeca Pagodinho, Ira e etc, que prezam pela qualidade de sua música independente do estilo, tem fãs incondicionais, carreiras longas sustentadas por eles e que levam consigo a força de uma imagem construida durante anos. Há milhares de oportunidades de negócio para este tipo de artista. Se a gravadora confeccionar suviniers, promoções, álbuns on line e outros artigos com os rostos ou nomes destes grupos terá resultados garantidos. Mas infelizmente a tão aclamada indústria fonográfica não está sabendo lidar com essa sua crise interminável. Continua se prendendo a MC não sei o que, a bandas de letras totalmente comerciais e facilmente decoráveis, e sambas de condomínio.
O que eu ainda espero ver é o renascimento da música, com a volta da poesia nas letras, dos arranjas criativos, da autenticidade na atitude dos artistas, a volta dos músicos de verdade, e finamente a volta do bom gosto!