sábado, 27 de junho de 2009

Santidade através do óbito



O que realmente somos está guardado a sete chaves e nem mesmo nós sabemos tudo o que escondemos. Talvez fosse isso que incomodasse Michael. Se as acusações de pedofilia, de mudança proposital de seu tom de pele e de maus tratos com seus filhos são verdades ou mentiras, creio que jamais saberemos. E mesmo sem ter o conhecimento do que acontecia nos bastidores de sua vida pessoal, a opinião pública o considerou culpado em seu próprio júri popular. Mas no dia 25 de junho de 2009 o mito morre. E imediatamente inicia-se uma onda de nostalgia. Programas de TV relembrando suas épocas gloriosas, manifestações nas ruas de todo o mundo, críticos ressaltando sua importância no cenário musical, celebridades chorando a partida daquele que já tinha ido, mas ninguém havia notado. Ou seja, todas as acusações e apontamentos negativos sumiram tão subitamente quanto sua alma após o último suspiro.

Michael Jackson é apenas um exemplo do que acontece diariamente por aí. Há condenação em vida e perdão na morte. O famoso jargão "quando morre todo mundo é santo" é a síntese do nosso comportamento, que acho, no mímino estranho. O orgulho das pessoas supera a capacidade de privilegiar os adjetivos positivos ao invés dos negativos. Como se a não-existência apagasse todas as besteiras feitas enquanto se respirava. Não posso também achar que devemos sacrificar os defuntos, mas poderíamos reconhecê-los enquanto podiam nos ouvir.

Não é preciso o Papa para lhe coroar santo, aliás nem ele enquanto está vivo pode se tornar um.
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A obra Assunto Popular Brasileiro de Diogo Dias foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada