quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Caos(as) Maiores

A esposa levanta alegre, cantante, pulando da cama e sacudindo o marido que babava no travesseiro de penas de alguma ave qualquer. Ele reluta em dar atenção à euforia da esposa. Vira-se pra um lado, vira-se para o outro. Enquanto isso ela vai até o banheiro para sua higiene matinal. Volta, abre as janelas e diz:

_Arnaldo, olha que dia lindo, é o seu dia meu amor!

Arnaldo ainda não tinha percebido o alvoroço na rua da sua casa, bem em frente ao seu portão. A esposa delirante vendo a algazarra gritava:

_Ai que emoção! Eles vieram pra te apoiar, te levantar como um herói para o Brasil e para o Mundo!

Ouvia-se gritos vindos da rua, mas de dentro da casa não era possível identificá-los nitidamente. Arnaldo resolveu enfim se compor para enfrentar aquele dia que já não começara da maneira que lhe apetecia. Na mesa do café da manhã, Arnaldo comia suas tradicionais bolachas de água e sal, mas sentiu falta do leite sobre a mesa.

_Maria, pegue o leite pra mim? disse ele. Ela sem pestanejar levantou-se e foi correndo até a geladeira apanhar o item solicitado. Maria sentou-se em frente a Arnaldo e perguntou:

_Querido, você acha que vai ser fácil? Vai ser fácil, não é? Eles te adoram!

_Eles não me adoram. Esse povo não adora ninguém. A gente quer fazer um trabalho decente e todo mundo fica reclamando de dinheiro de pinga que é desviado para causas maiores!

_Mas se as causas são "maiores", não é mais fácil explicar isso pra eles?

_Maria do Céu! Eles não sabem nem ler. Explicar alguma coisa pra essa gente é falar com uma porta.

_Você já tentou falar com uma porta?

_O que? Ah, deixa pra lá! Você me acompanha hoje? Em dia de eleição sempre é bom mostrar o lado família!

_Claro querido, vamos nos aprontar. E aliás, não esquece de colocar seu Armani, você tem que ficar muito elegante! O povo tem que saber que está bem representado pelo chiquérrimo Arnaldo Ferraz!

_Eu sei, eu sei. É por isso que eu te amo querida! Você me entende, sempre quer o melhor pra mim, e além do mais sabe como ninguém combinar as minhas "causas maiores".

domingo, 8 de agosto de 2010

Simples

Sou simples. Tenho desejos simples. Simples pra mim, não para o mundo. Tudo o que se quer ganha complexidade intensa quando se deseja muito alguma coisa. Talvez seja proposital, algo como uma peça do destino pra ninguém se acomodar e logo se entediar com a vida. Muitos tem a ilusão de viver para o futuro, de fazer planos que desfocam o seu próprio presente. Nada contra fazer planos, só acho que o agora é o lugar mais importante na linha do tempo.
Parar de viver pensando no que pode acontecer daqui a determinado período é uma escolha. E escolhas tem uma considerável propabilidade de não corresponder às expectativas de quem as fez. Eu escolho o agora, eu escolho o aqui. E, infelizmente, também corro o risco de estar errado. Por isso meus desejos são simples. Eles se resumem em querer que o meu agora seja bom, e que o agora de amanhã seja melhor ainda. Mas quando se deseja muito alguma coisa o que faz o destino? Te prega peças. Peças pequenas e grandes. Peças que são como pedras que se deve tirar do caminho e às vezes pisá-las descalço, pra que quando o chão macio chegar, o alívio seja ainda mais prazeroso.
Onde quero chegar com toda essa reflexão? Quero saber como lidar com as pedras. Não sei se tenho habilidade suficiente pra me desviar delas. Não me culpo por isso. Estou aprendendo, afinal, que sei eu da vida? Sei muita coisa, mas não é metade do que está por se apresentar a mim. Mas das poucas coisas que sei da vida, é que ela é simples, que nem eu. E é por isso que eu gosto dela. E acho sinceramente que ela também gosta de mim. Dou as minhas mãos à vida e deixo ela me guiar. Porque apesar de tudo eu confio nos seus caminhos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Especial

Seis bilhões de pessoas no mundo. Pensando racionalmente quase dá pra entrar em crise de desesperança. Quantas dessas bilhões são realmente especiais? Não creio que muitas, porque até hoje não conheci número suficiente para perder a conta. Fico me perguntando o motivo de tamanha discrepância entre os ordinários e os especiais. Tempo atrás eu obtive a resposta das minhas reflexões. É preciso muitos ordinários para que possamos compreender a importância dos especiais. Não me julguem prepotente, me considero ordinário, mas um ordinário especial. Por um simples motivo: O fato de ter a imensa sorte de conhecer pessoas especiais.


E esse texto é dedicado a uma das pessoas mais especiais que eu já conheci.
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