domingo, 15 de fevereiro de 2009

Estranha Intimidade


Não é de hoje que as eleições americanas causam um alvoroço na imprensa brasileira e mundial. Entendo que tudo o que acontence na terra de Tio Sam influencia diretamente nossas vidas e pode ter consequências cruciais para todo o mundo. Mas o que mais me intriga é a estranha intimidade que nossos jornalistas tratam o assunto. Manchetes irônicas, comentários apimentados, críticas quase que pessoais sobre acontecimentos e personagens do pleito americano me fazem questionar se realmente temos direito a esses pitacos. Será que os jornalistas tupiniquins conhecem o suficiente da história política americana? Será que todos eles já viveram o dia-a-dia daquele país? Será que eles tem idéia do que se passa na cabeça de um assalariado sulista americano?

Durante a imensa cobertura da eleição de 2008 vi, li e ouvi opiniões de pessoas que pareciam estar crentes de que estavam expressando exatamente o sentimento do cidadão dos EUA para nós brasileiros, mas que para mim não passavam de textos prontos, elaborados após algumas pesquisas na internet e de perceber qual seria a tendência da imprensa americana em relação aos candidatos e aos possíveis resultados. Digo isso porque sabemos quão complexo é o processo eleitoral de uma nação. E acredito ser muito difícil opinar sobre um tal processo no qual não fazemos parte, comentar sobre problemas que não conhecemos e acreditar numa "mudança" que não temos idéia de qual seja.

Quando ouvia nossos comentaristas políticos sobre a personalidade, as principais características, sobre a família, sobre o modo de governar, enfim, tudo que envolvia a disputa americana, me passava a impressão de que John McCain e Barack Obama eram dois cidadãos brasilienses e que disputavam a sucessão de Lula. Muito disso se deve ao misticismo de tudo que envolve os EUA. Todos nós queremos saber o que acontece por lá. Queremos novidades sobre o novo pacote econômico, queremos os lançamentos holywoodianos, queremos novas tecnologias e pesquisas de Oxford. Sim eles são importantes para o mundo e também para o Brasil, mas eu gostaria que uma eleição de outro hemisfério não ofuscasse as nossas próprias discussões, dos nossos próprios problemas e dos nossos próprios políticos.




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