quinta-feira, 10 de junho de 2010

Existem maneiras diferentes de fazer muitas coisas

Buzinas, pneus cantando e denunciando o atraso na freada, carros vindo de todos os pontos cardeais. Palavras chulas e gestos nem um pouco amistosos. Esse é o meu dia, essa é a minha vida. Sabe-se que a vida de um guarda de trânsito não é fácil. Não é para qualquer um ficar com aquele apito na boca e ser justo o bastante para não irritar pedestres, motoristas, motoqueiros e velhinhas. Certamente você irá se perguntar: Velhinhas? É! Velhinhas! E lhes conto uma história que explica o porquê.

Numa tarde qualquer, quando já estava exausto, louco para ir para casa e prestes a dar minha última apitada, já que o semáforo já havia sido consertado, vi uma velha senhora na calçada. Seu rosto simpático e a aparente idade avançada me fizeram querer ajudá-la. Resolvi então orientar os automóveis a parar, assim a doce velhinha atravessaria a rua sem maiores problemas. Assim que todos pararam chamei com um gesto a senhora e me virei para o outro lado da calçada para verificar se havia mais alguém a atravessar. Quando olhei novamente a velhinha tinha caminhado apenas até o primeiro retângulo da faixa de pedestres. Gritei: "Venha senhora! Os carros querem passar!" E ela não se mexeu. Pior. Ainda tirou um livreto da bolsa e começou a ler. Os motoristas já irritados começaram a onda insuportável de buzinas e a velhinha nem aí. Corri até ela e disse: "A senhora tem que atravessar rapidamente, senão terei que liberar os carros". Ela tranquilamente respondeu sorrindo com sua dentadura amarelada: "Só queria saber como é ser uma mulher de parar o trânsito".
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A obra Assunto Popular Brasileiro de Diogo Dias foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada