terça-feira, 6 de julho de 2010

Salve a Cerveja!

Um salão nobre, damas e cavalheiros muito bem vestidos. Um verdadeiro desfile de smokings e vestidos de alta costura. Ao fundo, a trilha é tocada por um pianista de luvas brancas. Todos tomam cuidado ao falar. O garçom interrompe uma conversa de uma roda de senhores e diz: _Aceitam cerveja?

Essa cena é impensável, pelo menos de acordo com nossa bagagem cultural. Por um simples motivo. A cerveja está marginalizada. É! Isso mesmo. Vou repetir. A cerveja está marginalizada! E sabe quem leva a fama de boa bebida? Os destilados, sobretudo o uísque. No cinema, na televisão, nas rodas da alta sociedade. Ninguém coloca a cerveja no casting. Nas cenas da novela, quando alguém é recebido em casa, o anfitrião logo oferece um scotch e duas pedras de gelo. No cinema idem. Nos jantares de negócio e eventos sociais o uísque reina absoluto. Absolut? Também! Até a soviética vodca ganhou espaço no status de bebida conveniente. O engraçado, é que poucas pessoas sabem degustar um destilado. A maioria aceita por educação, toma um gole homeopático e ainda faz cara feia, como se isso fosse dizer: "Pô! Essa é da boa". Por que então não abrir o coração, ser sincero e dizer: "Não obrigado. Você tem cerveja?". Porque a cerveja está marginalizada.

Dizem que ela engorda, que é agente de inchaço abdominal, que prejudica a circulação. Que é tomada em grandes quantidades (e daí?), e faz arrotar. Coitada, ela não pode sofrer tamanho preconceito! Olha o lado bom. Tem baixo teor alcoólico, é feita de cereais, é uma bebida totalmente social, geradora de assunto. Não se vê inimigos tomando cerveja juntos. Ao contrário do uísque. Tá vendo? A cerveja é uma bebida sincera e que deixa seus apreciadores também com altas doses de sinceridade. Cerveja combina com churrascos, aniversários, confraternizações da firma, e até festas infantis, para que os pais não morram de tédio e de azia de só ingerir salgadinhos e refrigerantes. Vamos valorizar a cerveja!

Se você é ministro, embaixador, empresário, socialite que não tem o que fazer e organiza festas sem motivo específico, anfitrião ricasso, cineasta ou autor de novela, peço-lhes rever seus conceitos. Não é com uma bela garrafa de Chivas que se ganha a simpatia de alguém. É com aquela garrafa marrom com rótulo caindo e com a transcrição CERVEJA no vidro.

Tomar bem.
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