quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Quitéria

Quitéria pare de reclamar! Mas que coisa Quitéria! Já lhe disse que se a comida estiver sem sal, bote. O dia está de gelar as canelas? Agasalhe teus cambitos. Nunca vi quem reclamasse mais que ela. Coitada da Quitéria. Ficava sentada, ouvindo a própria respiração na varanda que dava de frente pra Rua do Cisne. Passava o Zé Ferreiro, o Maltinho e o Milton Jacarandá. Quitéria mandava uma "olá". Mas ninguém se dava ao esforço de retribuir o cumprimento. Como era feia e desajustada a bichinha. De dar dó. Era compreensível que a mulher não calasse a matraca, reclamando de Buda a Maomé.

Mas um dia, que nem belo era, apareceu na vida de Quitéria um moço dos mais corajosos. Galenteava como um princípe aquele ser de rosto castigado pela natureza. Os cromossomos da beleza a abandonaram. Mas os da sorte foram solidários. Quitéria fazia-se de difícil, mas sabia que era aquela a única saída pra se desvirginar no amor. E o moço, além de corajoso, era insistente. Perseverou até o dia que comprou uma flor. Quitéria enfim acreditou, que o seu destino enfim a ajudou. Quando ela finalmente disse sim, o moço teve os olhos abertos, o encanto disperso e um grito soltou: Meu Santo Deus do Céu!
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