quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Amém


Hoje pela primeira vez sinto que envelheci. Nada grave. Mas sinto. Acordei com um sol quente e muito amarelo sobre a minha cara e uma ligação. E de maneira inédita entendi que alguém lembrou de mim muito cedo. Saber da importância desse ato me esclareceu a minha verdadeira idade.

Passei por algumas coisas que me transformaram. Nem me reconheço mais. E o melhor de tudo é que acho isso incrível. Meus olhos se abriram para pessoas que sempre me deram muito mais do que um simples olá. Que me deram o presente da sua companhia. Mas antes, no auge da minha juventude cegueta, não conseguia dimensionar o papel que elas desempenham na minha linda vida.

Posso dizer que tenho amigos e família. De verdade. Nem sei se deveriam ter nomes diferentes. Os meus amigos são a minha família – é propositalmente ambíguo. Tenho em mim um sentimento de – até agora – dever cumprido pelo simples fato de ser franco, sincero com quem me cerca. E agora, comigo. Já não sei me esconder, nem interpretar. Talvez só no papel.

Tento todos os dias me conscientizar dos meus defeitos, das minhas manias. Pragas que antes não tinha ideia de que continha. Percebi que a minha personalidade é forte, a minha voz é grave e as minhas palavras ásperas. Combinação perfeita para a antipatia. Portanto comecei a me reeducar. Tentar falar menos, mais baixo, com menos certeza.

É um processo longo, contudo prazeroso, para entender que tipo de ser humano eu quero ser. Eu quero ser o melhor sabendo que nunca serei. Assim não deixarei de me incomodar com a minha própria postura, com meus próprios pensamentos. Ai então conseguirei não sossegar até a derradeira hora que sossegarem por mim.

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