segunda-feira, 21 de março de 2011

Que não existe.


Sonhou com ela. Ela que nem sequer existe. Um rosto, cabelos castanhos e olhos também. “Que estranho” pensava. Surpreendeu-se com o fato de sonhar com alguém que nunca viu. Se viu, a imagem bela e esguia deve ter-se ido direto, sem pausas para um lugarzinho na mente reservado para lindos sonhos. Ficou imaginando nomes. Traçou hipóteses com todo o alfabeto. Torceu para que não começasse com x ou com z ou com y ou com w. Talvez w fosse digerível, mas preferia que não. Ela não estava sozinha na projeção noturna que o deliciava enquanto dormia. Estavam todos lá, numa espécie de festividade corriqueira. Um churrasco ou coisa parecida. Como se estivesse acordado, vendo tudo de fora, torcia para o sonho não acabar. Para que aquilo que sentia, naquela hora, de olhos bem fechados e corpo entorpecido, não terminasse nunca. Mas o galo cantou em algum lugar muito distante para ser ouvido. Raios cinzentos de sol iluminaram o quarto e incomodaram as retinas já desprotegidas pela transparência das pálpebras. Acordou. Feliz por ter sonhado. Ainda mais por ter lembrado dela. Que não existe. Ou se existe não conhece. Mas fez de uma noite qualquer um dia seguinte especial.
Licença Creative Commons
A obra Assunto Popular Brasileiro de Diogo Dias foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada