O topete. O problema é o topete. Não consegue de jeito
nenhum ajeitar os fios de cabelo de forma que os deixem no formato e curvatura
suficientemente elegantes para o seu próprio agrado. Já são quase duas da tarde
e o topete ainda não está legal. Após mais uma olhada no espelho de mão e outro
suspiro de descontentamento, o pequeno Gilberto resolveu abstrair e procurar
alguma forma de entretenimento. Como costumamos fazer com a dor, para não
lembrar dela pedimos cócegas.
Levantou da gorda cadeira revestida de couro, espreguiçou-se
e arranjou a gravata. Com o polegar opositor e o indicador abriu uma fresta na
persiana e avistou o velho Viaduto do Chá. Viu os plebeus se trombando feito
formigas e fez uma carinha de nojo. Só de lembrar da campanha eleitoral quase
caiu de náuseas e correu para o álcool em gel.
Essa lembrança lhe deu uma ideia. Seria ótimo proibir o contato
com o povo. Ainda mais nessa época da internet.
Apertou a tecla do telefone desinfetado e chamou a
secretária.
_Cirlene, você poderia convocar o escrivão, por favor? Tive
outra excelente ideia para um projeto de lei. Os vereadores vão adorar!
_Sim senhor, senhor Gilberto.
_Senhor? Olha lá como me chama Cirlene. Nada abaixo de
excelentíssimo me agrada.
_Sim senhor, senhor excelentíssimo.
_Puta merda Cirlene. É “sim, excelentíssimo Gilberto”.
_Sim senhor.
_Ah vai se fuder! Você está proibida de ser minha
secretária.
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